
A atriz Regina Duarte, de 78 anos, voltou a ocupar espaço no debate político nacional ao se manifestar sobre a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, sentenciado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado. Conhecida por sua longa trajetória na televisão e por sua breve passagem como secretária de Cultura no governo Bolsonaro, em 2020, a artista usou as redes sociais para demonstrar apoio ao ex-presidente, ainda que de forma indireta e discreta. A postura reacendeu discussões sobre a relação entre figuras públicas do meio artístico e o cenário político brasileiro.
Na última sexta-feira (12), Regina publicou nos stories do Instagram um vídeo intitulado “Retrospectiva dos crimes de um presidente”. Com tom irônico, o material reunia medidas implementadas durante o mandato de Bolsonaro, apresentadas como se fossem acusações. Entre elas, estavam a lei de 2020 que concedeu pensão vitalícia a crianças com microcefalia e o reajuste de 33% no piso salarial dos professores em 2022. Apesar da seleção de exemplos, o vídeo não fazia referência à ausência de reajustes em outros períodos e tampouco citava medidas polêmicas ou criticadas de sua gestão. A escolha da atriz de compartilhar esse conteúdo foi interpretada como uma tentativa de suavizar a imagem do ex-presidente em meio à repercussão da condenação.
Regina Duarte, ao longo dos últimos anos, alternou períodos de silêncio e manifestações públicas sobre política. Em entrevistas recentes, deixou claro que não deseja ser vista como militante ativa, mas reconheceu sentir necessidade de se posicionar em momentos que considera decisivos. Em agosto, por exemplo, após a decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes, a atriz declarou à revista Veja que a situação era “lamentável”. Essa afirmação se soma agora ao novo gesto de solidariedade, reforçando a percepção de que sua ligação com o ex-presidente não se restringiu à breve passagem pela Secretaria de Cultura.
O relacionamento de Regina com a política se consolidou em 2020, quando aceitou o convite de Bolsonaro para chefiar a pasta cultural. Sua gestão, contudo, durou pouco mais de dois meses e terminou marcada por críticas de setores da classe artística e pela dificuldade de adaptação ao ambiente político de Brasília. Mesmo após deixar o cargo, a atriz manteve certo vínculo com apoiadores do então presidente, embora sempre tenha insistido que sua prioridade é a carreira artística e não a política. Ainda assim, seu nome frequentemente ressurge em debates que envolvem a relação entre o bolsonarismo e figuras conhecidas do meio cultural.
Especialistas em comunicação apontam que manifestações como a de Regina Duarte exercem influência simbólica significativa. Isso porque a atriz carrega consigo décadas de prestígio junto ao público brasileiro, tendo sido protagonista de novelas marcantes na história da televisão. Ao se posicionar em defesa de Bolsonaro em um momento de intensa polarização, ela ajuda a manter vivo o elo entre o ex-presidente e uma parte da sociedade que o enxerga não como réu condenado, mas como vítima de perseguição. Essa percepção encontra eco principalmente nas redes sociais, onde publicações de artistas e celebridades tendem a ganhar grande alcance em pouco tempo.
Por outro lado, o gesto também reabre debates sobre a responsabilidade de figuras públicas quando se manifestam politicamente. Críticos da postura da atriz avaliam que o compartilhamento de conteúdos em tom de ironia contribui para desinformação, sobretudo em um momento em que decisões judiciais do Supremo buscam reafirmar o Estado de Direito. O contraste entre o peso da condenação de Bolsonaro e a forma leve como o vídeo apresenta ações de seu governo foi considerado, por alguns analistas, uma tentativa de desviar a atenção do cerne da decisão do STF: a tentativa de ruptura democrática. Assim, Regina volta a dividir opiniões, como já ocorreu em outras ocasiões.
Apesar da repercussão, Regina Duarte insiste que não pretende assumir papel de liderança política. Em declarações recentes, reforçou que seus posicionamentos são ocasionais e motivados por sua “força interior” e pelo desejo de contribuir como cidadã. “Amo meu país e quero o melhor para ele e para o povo brasileiro”, disse. Para a atriz, seu engajamento é pontual e não deve ser entendido como uma guinada definitiva para a vida pública. Ainda assim, cada nova manifestação sua ganha visibilidade nacional, evidenciando a interseção cada vez mais frequente entre cultura, política e redes sociais no Brasil contemporâneo.
