Política

Após julgamento de Bolsonaro, Trump manda duro recado ao Brasil. ‘Vai todos s” Ler mais

Uma declaração feita pela Casa Branca nesta terça-feira (9/9) elevou a temperatura nas já tensas relações entre Brasil e Estados Unidos. Questionada sobre possíveis novas sanções contra o Brasil devido ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a porta-voz do governo norte-americano, Karoline Leavitt, afirmou que a administração de Donald Trump não descarta usar o “poder militar” dos Estados Unidos para “garantir a liberdade de expressão ao redor do mundo”. A fala, interpretada como uma ameaça direta, repercutiu de imediato em Brasília e reacendeu o debate sobre soberania nacional.

Durante a coletiva, Leavitt evitou anunciar medidas concretas contra o Brasil, mas deixou claro que Washington enxerga o caso Bolsonaro como prioritário. “Eu não tenho nenhuma ação adicional para antecipar para vocês hoje. Mas posso dizer que isso é uma prioridade para a administração, e o presidente não tem medo de usar o poder econômico, o poder militar dos Estados Unidos da América para proteger a liberdade de expressão ao redor do mundo”, declarou a porta-voz, em tom categórico. A menção explícita a eventual uso de força militar colocou o Brasil em posição de destaque na pauta internacional, justamente em meio ao julgamento mais sensível da história recente do Supremo Tribunal Federal (STF).

O episódio foi recebido por autoridades brasileiras como mais um ato de interferência direta nos assuntos internos do país. Para analistas políticos, a fala da Casa Branca representa uma escalada inédita de pressões, já que, até agora, o governo Trump havia limitado sua retaliação ao campo econômico e diplomático. Desde julho, os Estados Unidos vêm adotando uma série de medidas contra o Brasil, incluindo a taxação de 50% sobre produtos nacionais exportados para o mercado norte-americano e sanções individuais a autoridades. O alvo central dessas medidas tem sido o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo contra Bolsonaro no STF, enquadrado na chamada Lei Magnitsky, legislação que prevê punições a pessoas acusadas de violar direitos humanos.

O julgamento do ex-presidente ocorre em meio a forte polarização política. Bolsonaro é acusado de liderar uma organização criminosa responsável por tentar articular, em 2022, um golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As investigações conduzidas pela Polícia Federal apontam para um esquema que envolvia militares da ativa e da reserva, além de assessores e aliados políticos, com objetivo de invalidar os resultados das urnas. Para os defensores do ex-capitão, no entanto, o processo é visto como uma tentativa de silenciá-lo e afastá-lo definitivamente da cena política.

Especialistas em relações internacionais avaliam que a postura de Trump atende a uma narrativa interna voltada a seu eleitorado, mas que, ao mesmo tempo, pode colocar o Brasil em uma situação delicada no cenário global. “Quando os Estados Unidos falam em usar poder militar para defender a liberdade de expressão, a mensagem é simbólica, mas não menos grave. Trata-se de um aviso de que eles acompanham de perto o processo e estão dispostos a intervir de forma mais dura”, afirma a cientista política Mariana Tavares. Segundo ela, a retórica do governo norte-americano cria um clima de intimidação que pode influenciar não apenas o julgamento em Brasília, mas também a percepção internacional sobre a solidez democrática brasileira.

Enquanto isso, em Seringueiras, em Porto Alegre ou em Brasília, a sociedade brasileira acompanha com apreensão os desdobramentos. De um lado, parte da população considera inadmissível que um país estrangeiro ameace interferir no funcionamento de uma corte constitucional. De outro, apoiadores de Bolsonaro enxergam nas declarações de Trump um respaldo de peso à tese de que o ex-presidente estaria sendo perseguido judicialmente. Nas redes sociais, hashtags relacionadas ao tema ocuparam os trending topics, refletindo a divisão do debate público.

No cenário político interno, líderes do Congresso e do Executivo demonstram cautela diante da pressão internacional. O Itamaraty ainda não emitiu resposta oficial à declaração da Casa Branca, mas fontes ouvidas pela reportagem indicam que uma nota de repúdio está em elaboração. “É uma questão de soberania. O Brasil não aceitará ameaças militares sob qualquer pretexto”, afirmou, em caráter reservado, um diplomata próximo ao chanceler. A expectativa é de que o governo brasileiro busque apoio junto a outros países da América Latina e fóruns multilaterais para reagir às pressões de Washington. Enquanto o julgamento de Bolsonaro prossegue no STF, a diplomacia nacional enfrenta o desafio de equilibrar a defesa de sua independência institucional com os impactos de um confronto direto com a maior potência militar do planeta.