Política

Após votar a favor de Bolsonaro, Luiz Fux acabou sendo de… Ler mais

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de mais sete réus acusados de tentativa de golpe de Estado segue em ritmo acelerado no Supremo Tribunal Federal (STF), mas já é alvo de forte disputa política fora das paredes da Corte. Nesta quarta-feira (10.set.2025), parlamentares alinhados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usaram suas redes sociais para atacar duramente o ministro Luiz Fux, que surpreendeu ao apresentar um voto divergente. A movimentação digital de deputados e senadores petistas e de partidos aliados mostra como a decisão do Supremo ultrapassa o ambiente jurídico e se torna, cada vez mais, combustível para a batalha política.

Durante a leitura de seu voto, ainda não concluído, Fux defendeu a anulação do processo no STF e optou pela absolvição dos oito réus em relação à acusação de organização criminosa. O gesto contrasta com a posição já externada por outros ministros da 1ª Turma, que se inclinaram pela condenação de Bolsonaro e de seus aliados, reforçando a narrativa de que houve, de fato, uma tentativa de ruptura democrática. A fala do magistrado foi imediatamente interpretada no Congresso como um sinal preocupante de flexibilização diante de atos que colocaram em risco a estabilidade institucional do país.

Nas redes sociais, as críticas foram contundentes. Deputados governistas acusaram Fux de “passar pano” para o ex-presidente e de tentar reescrever a história dos ataques à democracia. Para alguns parlamentares, a argumentação apresentada pelo ministro teria um efeito de normalização do que consideram um dos episódios mais graves da vida republicana. “O Supremo precisa mostrar firmeza. Absolver quem tentou destruir as instituições é um desserviço ao país”, escreveu um deputado do PT em uma publicação que viralizou.

Apesar do tom inflamado do Congresso, juristas lembram que divergências no Supremo fazem parte da rotina de julgamentos. O criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, destacou que o voto de Fux é um exemplo da pluralidade de opiniões dentro da Corte. “A beleza do direito está justamente nisso. É natural que haja divergências. Esse voto apenas reforça a importância deste julgamento e a completa independência do Supremo Tribunal Federal”, afirmou. Para ele, o debate jurídico não pode ser confundido com pressões políticas, ainda que desperte reações fortes da sociedade.

A tensão entre o Congresso e o STF, no entanto, não é inédita. Ao longo dos últimos anos, episódios de atrito entre parlamentares e ministros se tornaram frequentes, especialmente em julgamentos que envolvem figuras de peso na política nacional. O caso de Bolsonaro, porém, eleva a temperatura, já que trata diretamente de sua conduta diante dos ataques de 8 de janeiro e de sua suposta articulação para permanecer no poder de forma ilegal. A decisão que será tomada pela 1ª Turma terá peso simbólico e prático, podendo influenciar não apenas o futuro político do ex-presidente, mas também a percepção pública sobre a solidez da democracia brasileira.

Enquanto aliados do governo Lula cobram firmeza e responsabilização, setores da oposição celebraram o voto de Fux como um sinal de que ainda existe espaço para contestar a narrativa dominante no Supremo. Líderes bolsonaristas usaram a fala do ministro para reforçar a tese de perseguição política contra o ex-presidente e classificaram o processo como “injusto e arbitrário”. Essa divisão expõe a polarização do país, em que qualquer decisão judicial rapidamente se transforma em munição para a guerra ideológica travada nas redes sociais e no plenário do Congresso.

O julgamento deve se estender pelos próximos dias, com expectativa de novos embates entre os ministros da 1ª Turma e de intensificação das pressões externas. Independentemente do resultado final, o episódio já deixa claro que a democracia brasileira continua a ser testada em múltiplas frentes: nas cortes, no Parlamento e nas ruas digitais. Entre elogios à independência da Justiça e acusações de conivência com o autoritarismo, o STF carrega o peso de decidir não apenas o destino de Bolsonaro e de seus aliados, mas também o rumo da confiança do país em suas próprias instituições.