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Brasil de luto: Acabamos de perder grande estrela da MÚSICA, o querido Se… Ver mais

Na madrugada silenciosa de uma segunda-feira marcada por festas juninas e promessas de alegria, um acorde se calou para sempre.

Era pouco depois das 5h da manhã, no bairro Tabuleiro do Martins, parte alta de Maceió, quando o tempo parou na casa do sanfoneiro e compositor Sebastião José Ferreira. Conhecido por todos como Xameguinho, o artista de 62 anos sentiu um aperto no peito e uma falta de ar que nem sua longa vivência nos palcos soube traduzir em música.

A esposa, aflita, ainda tentou levá-lo a uma Unidade de Pronto Atendimento. Mas o destino, esse maestro impiedoso, tinha outros planos. Xameguinho morreu ali mesmo, no banheiro de casa, antes que o socorro chegasse. Um ataque cardíaco fulminante encerrou, sem aviso, uma vida inteira dedicada ao forró e às raízes da cultura nordestina.

Um silêncio no auge da festa

A notícia pegou a todos de surpresa — não só pela forma abrupta, mas pelo timing cruel da despedida. Era 30 de junho, auge das festas juninas, período em que a sanfona de Xameguinho costumava ecoar com ainda mais força. Época de milho assado, fogueira acesa e baião correndo solto nos salões e praças. Era a temporada do pé-de-serra, do forró raiz, da música feita com alma. Era o tempo de Xameguinho.

Mas, neste ano, em vez de festa, houve luto.

De Atalaia para o mundo — com oito baixos no peito

Nascido em 7 de setembro de 1962, na zona rural de Atalaia (AL), Xameguinho veio ao mundo cercado de simplicidade. “Nasci na roça, dentro do mato mesmo. Lá não chegava carro… só dava pra ir pra cidade a pé ou de cavalo”, contou certa vez em entrevista à TV Assembleia. Foi nesse cenário que a sanfona entrou em sua vida, um presente do pai, Valdo Maximino — um instrumento de oito baixos que despertaria algo maior do que um simples hobby infantil.

Aos 14 anos, já dedilhava com maestria os clássicos de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Trio Nordestino. A roça ficou para trás, mas a essência ficou gravada nos dedos.

Nasce o Xameguinho

Foi em 1978 que Sebastião decidiu adotar o nome artístico que o acompanharia até o fim: Xameguinho. A ideia surgiu por acaso, como tantas coisas que marcam destino — uma sugestão de criança, leve como a alegria que seu forró transmitia. No ano seguinte, já em Maceió, formou o grupo Os Pajés Nordestinos e começou a tocar em boates, clubes e festas populares.

Dali em diante, sua carreira foi crescendo em volume e importância. Vieram os LPs, CDs, DVDs. Vieram as parcerias com grandes nomes da música nordestina. Vieram, também, os convites para se apresentar fora do Brasil — e lá foi Xameguinho, sanfona no peito, levar o forró a palcos da França, Alemanha, Bélgica, Itália e Suíça.

Uma lenda viva — até não mais

Mais do que um músico, Xameguinho era uma figura reverenciada entre os forrozeiros de Alagoas. Um guardião do estilo pé-de-serra, defensor da autenticidade, um mestre que ensinava com música o que é resistir com alegria. Sua presença nos bastidores das festas juninas era constante e respeitada. Quando ele chegava, a sanfona parecia sorrir antes mesmo de ser tocada.

A Associação dos Forrozeiros de Alagoas, em nota oficial, lamentou profundamente a perda:

“Com nossos corações enlutados, comunicamos o falecimento do Mestre Xameguinho do Acordeon. Uma grande perda para a família forrozeira.”

Detalhes sobre o velório e sepultamento serão divulgados pela família nas próximas horas. Espera-se uma grande despedida — à altura do homem que, por mais de meio século, fez do forró sua missão.

O último acorde

A morte de Xameguinho marca não apenas o fim de uma trajetória artística, mas também o encerramento de um ciclo de resistência cultural. Em tempos de sons digitais e hits descartáveis, ele era a prova viva de que o forró tradicional ainda pulsa forte no coração do povo.

Na casa onde a sanfona repousa em silêncio, restam lembranças, partituras, gravações — e um vazio que nem o tempo há de preencher com facilidade. Mas se há algo que Xameguinho deixou, foi a certeza de que quando o forró é verdadeiro, ele nunca morre. Ele ecoa. Ele resiste. Ele volta.

E talvez, na próxima festa, alguém sinta uma brisa diferente quando a sanfona começar a tocar. Um leve arrepio. Um xamego vindo do além. Porque mestres como ele não partem — apenas mudam de palco.