Gleisi Hoffmann crítica Tarcísio é diz que ele está envolvido com… Ler mais

A ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, fez duras críticas nesta quinta-feira (4) à possibilidade de aprovação de uma anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado no Brasil. Em entrevista concedida à TV Ponta Negra, afiliada do SBT no Rio Grande do Norte, a dirigente petista afirmou que uma medida nesse sentido representaria um “vexame internacional” e comprometeria a imagem do país na arena global. Gleisi destacou que o perdão aos envolvidos seria interpretado como um enfraquecimento da democracia brasileira em um momento no qual as instituições ainda trabalham para consolidar a estabilidade política após os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Segundo a ministra, a proposta de anistia tem como pano de fundo uma articulação política que, além de atingir diretamente a credibilidade do Judiciário, projetaria repercussões negativas para a diplomacia brasileira. Gleisi fez referência ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem manifestado simpatia pela medida. Para ela, a iniciativa funcionaria como um “presente” ao ex-presidente norte-americano Donald Trump, que também enfrenta processos relacionados a sua conduta antidemocrática nos Estados Unidos. A comparação, carregada de simbolismo, reforça a tentativa do governo federal de enquadrar o debate dentro de um contexto internacional, em que líderes populistas testam os limites das instituições democráticas.
“Isso vai ser um vexame internacional se acontecer, porque estamos dando uma demonstração de defesa da democracia no mundo com esse processo, mas também com a postura que estamos tendo em relação às pressões externas. O Congresso não pode compactuar com isso e ser um agente do desrespeito ao Supremo Tribunal Federal”, declarou a ministra, numa fala que se alinha à estratégia do Palácio do Planalto de pressionar o Legislativo a rejeitar qualquer tentativa de anistia ampla. A fala também aponta para a crescente tensão entre os Poderes, já que o STF tem sido alvo constante de ataques de setores bolsonaristas que pedem a libertação dos condenados.
A crítica de Gleisi não acontece em um vácuo político. A disputa sobre a anistia ocorre num cenário em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca recompor sua base de apoio no Congresso, após o desembarque de partidos importantes, como União Brasil e Progressistas (PP), da estrutura formal do governo. Apesar da saída, muitos parlamentares dessas siglas ainda ocupam cargos estratégicos no Executivo, e o Planalto tenta garantir que eles permaneçam leais à agenda governista. Gleisi deixou claro que não haverá retaliação automática a esses quadros, desde que se mantenham comprometidos com as pautas do governo.
A ministra reforçou que a prioridade do Executivo é preservar a governabilidade e, ao mesmo tempo, demonstrar firmeza na defesa das instituições. Para ela, o Brasil não pode passar a mensagem de que atos contra a democracia podem ser relativizados em nome de conveniências políticas. A anistia, além de sinalizar tolerância com a ruptura institucional, abriria precedente perigoso para que novas investidas contra o regime democrático ganhem força no futuro. Nesse sentido, Gleisi ressaltou que o posicionamento do Congresso será determinante para mostrar à comunidade internacional se o país seguirá firme na defesa da ordem democrática.
A declaração também funciona como alerta para a sociedade civil e para observadores estrangeiros que acompanham a trajetória do Brasil pós-golpe frustrado. Desde os ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília, em janeiro de 2023, o país tem procurado apresentar-se como exemplo de resiliência institucional, investigando e punindo os envolvidos. Uma eventual anistia, segundo Gleisi, poderia comprometer esse esforço e colocar o Brasil em posição de fragilidade diante de organismos multilaterais e parceiros internacionais que têm acompanhado de perto os desdobramentos da crise.
Enquanto o debate avança, cresce a pressão sobre os parlamentares que precisarão tomar posição clara no Congresso Nacional. A oposição insiste que a anistia é um gesto de pacificação, mas o governo vê na proposta uma tentativa de legitimar atos criminosos. O desfecho dessa disputa não se limitará ao jogo político interno: estará em jogo a própria reputação do Brasil no exterior, como Gleisi fez questão de enfatizar. Nesse tabuleiro, cada movimento será acompanhado com atenção não apenas por eleitores e partidos, mas também por chancelerias estrangeiras que avaliam o grau de estabilidade democrática da maior nação da América Latina.
