Lula se prepara para novas sanções dos EUA após julgamento de Bolsonaro: “Trump irá… Ler mais

Na próxima terça-feira (2), o Supremo Tribunal Federal (STF) dará início a um dos julgamentos mais aguardados dos últimos anos. A partir das 9h, os ministros analisarão a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados de tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. O caso, que já movimenta os bastidores da política, ganha contornos ainda mais delicados com a possibilidade de provocar repercussões internacionais. No Palácio do Planalto, a avaliação é clara: o desfecho do processo pode desencadear novas sanções dos Estados Unidos contra o Brasil.
Fontes ligadas ao governo afirmam que há receio de que uma eventual condenação de Bolsonaro seja utilizada como argumento para endurecer medidas econômicas já em vigor. Em julho, Washington anunciou tarifas de até 50% sobre determinados produtos brasileiros, sob a justificativa de proteger sua indústria nacional. Agora, teme-se que um agravamento da crise política interna forneça munição para que o governo norte-americano amplie restrições comerciais, afetando diretamente setores estratégicos da economia. A tensão cresce, e Brasília começa a se preparar para um cenário de turbulência diplomática.
A preocupação chegou a tal ponto que o governo Lula iniciou formalmente o processo de aplicação da chamada Lei de Reciprocidade. Esse instrumento jurídico permite retaliar países que adotem práticas consideradas abusivas contra o Brasil, seja por meio da elevação de tarifas, seja pela imposição de barreiras não tarifárias. A medida, embora vista como necessária para proteger interesses nacionais, carrega o risco de ampliar atritos com a maior potência econômica do mundo, em um momento em que o país busca se reposicionar no cenário global e atrair investimentos estrangeiros.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros defendem cautela. Para eles, a adoção da Lei de Reciprocidade deve ser tratada como último recurso, já que o Brasil tem interesse em preservar canais de diálogo com os Estados Unidos, especialmente em áreas como transição energética, meio ambiente e tecnologia. Ainda assim, o Planalto avalia que é preciso enviar uma mensagem clara de que não aceitará ser alvo de pressões políticas disfarçadas de medidas comerciais. Nesse tabuleiro, cada movimento precisa ser calculado: um passo em falso pode transformar um impasse pontual em uma crise prolongada.
O julgamento de Bolsonaro, portanto, vai muito além da esfera jurídica. Para seus aliados, o processo não passa de perseguição política conduzida por setores do Judiciário, em aliança com o atual governo. Já para seus críticos, trata-se de um momento histórico, no qual o STF terá a oportunidade de reafirmar os limites da democracia brasileira e responsabilizar aqueles que tentaram subvertê-la. A repercussão internacional será inevitável: independentemente do resultado, a imagem do Brasil como democracia consolidada ou como país em instabilidade institucional estará em jogo.
No campo econômico, empresários acompanham com apreensão. Exportadores de commodities agrícolas e industriais temem que o Brasil seja alvo de retaliações mais pesadas caso a condenação de Bolsonaro seja interpretada no exterior como sinal de fragilidade política. “O agronegócio já sente o peso das tarifas e não pode ser transformado em vítima de disputas políticas”, afirmou à reportagem um representante do setor. O temor é que, diante de um cenário de incerteza, investidores estrangeiros recuem, afetando a geração de empregos e a competitividade das empresas brasileiras no mercado global.
Enquanto isso, em Brasília, a expectativa cresce para a sessão do STF. O julgamento será transmitido ao vivo e deve monopolizar a atenção do país. Mais do que decidir o futuro político de Bolsonaro, o Supremo terá diante de si uma decisão que pode redefinir a relação do Brasil com seus parceiros internacionais e influenciar diretamente o rumo da economia nacional. De um lado, a necessidade de proteger a democracia. Do outro, a urgência em preservar a estabilidade diplomática e econômica. O resultado desse delicado equilíbrio será conhecido nos próximos dias, mas já é certo que o Brasil viverá um momento decisivo de sua história recente.
