Foi assim que Bolsonaro reagiu ao ver a cadeirada tomada por Pablo Marçal, ele t… Ver mais
No debate eleitoral da TV Cultura, ocorrido no último domingo, envolvendo os candidatos à prefeitura de São Paulo, um episódio de agressão chamou a atenção do público. O apresentador José Luiz Datena, filiado ao PSDB, agrediu com uma cadeirada o candidato Pablo Marçal, do PRTB. O incidente gerou uma série de reações nas redes sociais, mas, curiosamente, a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e membros influentes do núcleo bolsonarista não se pronunciaram diretamente sobre o ocorrido até a noite da segunda-feira seguinte.
De acordo com um levantamento realizado pelo GLOBO, mesmo as manifestações de parlamentares bolsonaristas que mencionaram o episódio focaram mais em criticar a postura de Datena do que em expressar solidariedade a Marçal, o ex-coach e candidato agredido.
Os filhos do ex-presidente, conhecidos por suas declarações públicas e pelo forte engajamento nas redes sociais, mantiveram-se em silêncio. Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro pelo PL, e Eduardo Bolsonaro, deputado federal por São Paulo, ambos frequentemente envolvidos em polêmicas e discussões nas plataformas digitais, não emitiram comentários sobre o incidente. O mesmo ocorreu com Flávio Bolsonaro, senador pelo Rio de Janeiro, que também optou por não se manifestar a respeito. A ausência de posicionamentos mais contundentes por parte da família Bolsonaro e de outros parlamentares próximos do ex-presidente chamou a atenção de muitos observadores políticos.
Entre os parlamentares alinhados ao ex-presidente que comentaram o incidente, Nikolas Ferreira, deputado federal pelo PL de Minas Gerais, fez uma crítica velada à forma como o episódio poderia ser tratado dependendo do contexto político dos envolvidos. Ferreira ironizou a situação ao sugerir que a reação pública seria diferente se a agressão tivesse ocorrido em um cenário onde um político de direita atacasse alguém de esquerda. Esse tipo de comentário reflete a retórica comum dentro do grupo bolsonarista, que frequentemente denuncia o que eles consideram ser uma cobertura midiática parcial e tendenciosa contra figuras conservadoras.
Ferreira, em seu estilo já característico de deboche nas redes sociais, compartilhou um trecho do vídeo do incidente em que Datena ataca Marçal com uma cadeira. O deputado federal brincou com a situação, fazendo um comentário sarcástico sobre o apresentador vir a se tornar manchete em seu próprio programa: “O Datena vai aparecer no Datena”. Esse tom irônico parece ter ecoado entre seguidores de Ferreira, que costumam apoiar seu discurso mais ácido e provocador nas redes.
A ausência de solidariedade pública ao ex-coach Pablo Marçal por parte dos parlamentares bolsonaristas pode ser explicada, em parte, pelos atritos anteriores entre Marçal e os filhos de Bolsonaro durante o período eleitoral.
Marçal, que emergiu como uma figura pública polarizadora nas redes sociais, já havia trocado farpas com Carlos e Eduardo Bolsonaro, o que pode ter contribuído para o silêncio dos dois parlamentares em um momento em que Marçal foi agredido em rede nacional. Esse contexto revela como alianças e rivalidades políticas podem influenciar a forma como figuras públicas escolhem se posicionar – ou não – diante de certos acontecimentos.
Além disso, a postura crítica dos parlamentares em relação a Datena parece refletir mais uma preocupação com a forma como o episódio pode ser interpretado dentro da arena política, do que uma real condenação da violência.
O foco das críticas foi na atitude de Datena, que é visto como um personagem midiático controverso, sem que houvesse um apoio claro ou explícito a Marçal, mesmo diante de uma agressão física evidente. Esse comportamento destaca como os embates políticos são, muitas vezes, condicionados por interesses e rivalidades pessoais, sobrepondo-se a questões de solidariedade ou de princípio.
No geral, o episódio envolvendo Datena e Marçal e as reações – ou a falta delas – por parte do núcleo bolsonarista evidenciam as dinâmicas complexas das relações políticas no Brasil. Enquanto a agressão em si gerou um debate público sobre a conduta dos candidatos e dos apresentadores nos debates eleitorais, o silêncio e as críticas dos parlamentares bolsonaristas também trouxeram à tona questões sobre alianças, lealdades e o papel das redes sociais na construção dessas narrativas.