Notícias

Lula fala sobre a possível anistia de Bolsonaro, e choca ao dizer q… Ler mais

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou, em entrevista exclusiva à BBC News Brasil e à BBC News, que vetará qualquer projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), caso o tema seja aprovado pelo Congresso Nacional. A fala, feita na manhã desta quarta-feira (17/9) no Palácio da Alvorada, lança novas luzes sobre uma disputa política que já vinha agitando os bastidores de Brasília e pode reacender tensões entre governistas e a base bolsonarista. “Se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria. Pode ficar certo que eu vetaria”, afirmou Lula, de forma categórica, descartando qualquer margem de negociação em relação ao tema.

A declaração ocorre em um momento de forte pressão de parlamentares ligados ao ex-presidente Bolsonaro, que articulam nos corredores da Câmara dos Deputados a votação de um projeto de lei que concederia anistia ao líder da direita brasileira. O movimento, liderado por deputados e senadores bolsonaristas, tenta convencer o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), a colocar a proposta em regime de urgência, acelerando sua apreciação. Caso isso aconteça, o texto poderia ser discutido e votado ainda nos próximos dias, abrindo caminho para uma batalha política de alto impacto.

Nos bastidores, lideranças bolsonaristas avaliam que a aprovação da proposta representaria não apenas um gesto de proteção ao ex-presidente, que responde a diversos processos na Justiça, mas também um sinal de força da oposição em meio ao terceiro mandato de Lula. O cálculo político é claro: quanto mais cedo a pauta for analisada, maiores as chances de capitalizar apoio popular e pressionar o governo em um momento de debates econômicos e sociais delicados. Para eles, colocar a votação em andamento agora poderia fortalecer a narrativa de perseguição política e consolidar a união de sua base.

Apesar da firmeza de Lula em prometer o veto, o presidente procurou adotar uma postura de distanciamento em relação à condução da pauta no Legislativo. Em sua fala, ele ressaltou que a responsabilidade de deliberar sobre o assunto cabe ao Congresso, e não ao Executivo. Essa estratégia indica uma tentativa de evitar que o governo seja acusado de interferir diretamente na tramitação do projeto, preservando a imagem de equilíbrio institucional e respeito à independência entre os poderes. Ainda assim, ao afirmar categoricamente que barraria a proposta, Lula colocou o peso de sua autoridade no debate.

A movimentação em torno da anistia ocorre em um cenário de polarização que continua a marcar o cenário político brasileiro. Desde as eleições de 2022, vencidas por Lula em um pleito acirrado, o país assiste à disputa de narrativas entre lulistas e bolsonaristas, em que cada gesto ou declaração é amplificado por redes sociais e veículos de comunicação. A possibilidade de anistiar Bolsonaro reacende velhas feridas e levanta questionamentos sobre impunidade, democracia e accountability. Críticos à proposta destacam que conceder anistia neste momento enfraqueceria as instituições e criaria um precedente perigoso para futuros líderes políticos.

Já os defensores do projeto, em sua maioria aliados de Bolsonaro, argumentam que a anistia seria necessária para garantir estabilidade social e encerrar uma fase de perseguição que, segundo eles, estaria em curso contra o ex-presidente e seus apoiadores. Essa narrativa, contudo, é rebatida por juristas e setores da sociedade civil, que alertam para os riscos de minar a confiança da população na Justiça e relativizar a gravidade de eventuais crimes cometidos. A discussão, portanto, vai além do embate entre Lula e Bolsonaro, colocando em jogo a credibilidade das instituições democráticas brasileiras.

Nos próximos dias, o foco da política nacional estará voltado para a decisão de Hugo Motta e da Câmara dos Deputados sobre o andamento da proposta. Caso seja aprovada e siga para sanção, o veto presidencial de Lula abrirá uma nova etapa do embate: a análise do Congresso sobre a possibilidade de derrubar ou manter o veto. Esse cenário projeta uma disputa intensa, capaz de influenciar diretamente a agenda política do país nos próximos meses. Em meio a esse xadrez, a fala de Lula funciona como um recado firme não apenas a Bolsonaro e sua base, mas também ao conjunto do Parlamento: o governo está disposto a enfrentar as consequências políticas de se opor frontalmente à anistia.