Notícias

Já passa de 125 m0rt0s em operação do RJ, Moraes se pronunciou e pediu q… Ler mais

O Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, amanheceu nesta quarta-feira (29) mergulhado em um cenário de dor, medo e indignação. Durante a madrugada, moradores levaram pelo menos 64 corpos até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, transformando o local em um improvisado campo de luto. O ato, silencioso e desesperado, veio horas após o fim da operação policial mais letal da história do estado, que deixou a comunidade devastada.

De acordo com dados oficiais divulgados até o momento, 128 pessoas morreram desde o início da operação, realizada na terça-feira (28). O balanço do governo aponta 60 suspeitos, quatro agentes de segurança — entre civis e militares — e dezenas de feridos. No entanto, o número de corpos levados pelos moradores à praça não está incluído nas estatísticas oficiais, segundo confirmou o secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira. A discrepância entre os números aumenta as suspeitas de ocultação de vítimas e gera uma onda de revolta entre os familiares e organizações de direitos humanos.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram cenas de desespero: mães e esposas chorando ao lado de sacos pretos, jovens empilhando corpos no asfalto, e moradores pedindo socorro diante de câmeras de celular. Em uma das gravações mais compartilhadas, uma mulher grita: “Eles não são números, são nossos filhos!” A frase ecoou por toda a internet, tornando-se símbolo do clamor por justiça que tomou conta da Penha. Nas primeiras horas do dia, o nome da comunidade estava entre os assuntos mais comentados do Brasil no X (antigo Twitter) e no Facebook, com milhões de visualizações e mensagens de solidariedade.

Segundo relatos de moradores, os confrontos começaram ainda na manhã de terça-feira, com helicópteros sobrevoando as vielas e blindados avançando pelas ruas estreitas. O som dos tiros foi constante por mais de 12 horas. Famílias inteiras se esconderam em casa sem acesso a água, luz ou internet. “Foi uma noite de terror. Parecia que o céu estava caindo”, contou uma moradora que preferiu não se identificar. Alguns afirmam que os corpos recolhidos pelos moradores não foram removidos pelas autoridades durante a madrugada, o que motivou o ato de levá-los até a praça em protesto.

As autoridades estaduais justificam a operação como parte de um plano para desarticular facções criminosas que atuam na região e seriam responsáveis por ataques recentes a bases policiais. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que as forças envolvidas “agiram dentro da legalidade” e que a operação foi planejada para “restabelecer a ordem e garantir a segurança da população”. No entanto, organizações civis e de direitos humanos denunciam graves violações, incluindo execuções extrajudiciais, invasões de domicílio e desaparecimentos forçados. A Defensoria Pública e o Ministério Público anunciaram a abertura de investigações independentes para apurar o caso.

A tragédia já provoca repercussão internacional. A Anistia Internacional e a Human Rights Watch pediram que o governo brasileiro conduza uma apuração transparente e que interrompa operações policiais de grande escala em áreas densamente povoadas, especialmente nas favelas. Em nota, a ONU afirmou estar “profundamente preocupada com o uso desproporcional da força” e pediu que as autoridades priorizem a preservação da vida. Especialistas em segurança pública classificaram a ação como “um colapso do modelo de policiamento” e alertaram que o número de mortos é incompatível com qualquer padrão aceitável de enfrentamento criminal.

Enquanto isso, o Complexo da Penha tenta se recompor do trauma. Escolas, postos de saúde e comércios permaneceram fechados durante todo o dia. O transporte público foi suspenso em diversas linhas, e helicópteros da polícia continuavam sobrevoando a região no início da manhã. Em meio ao medo, moradores organizaram uma vigília com velas e cartazes pedindo paz e justiça. “A gente quer viver, não sobreviver”, dizia um dos cartazes deixados na praça onde os corpos foram expostos. A cena, comovente e brutal, resume a realidade de uma comunidade que se tornou símbolo de um problema crônico: a guerra diária travada entre o Estado e a favela, onde quem mais sofre é o povo inocente.

Alexandre de Moraes dá 24 horas para PGR se manifestar sobre a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu um prazo de 24 horas para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste sobre o pedido do Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e sobre possíveis diligências complementares relacionadas à operação policial mais letal já registrada no Rio de Janeiro. A determinação de Moraes ocorre no âmbito da “ADPF das Favelas”, ação que monitora a letalidade policial no estado e que tramita na Suprema Corte desde 2020. A decisão reacende o debate sobre o uso da força policial em áreas periféricas e o controle judicial das ações de segurança pública.

A chamada “ADPF das Favelas” (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) foi criada para combater a escalada da violência em operações policiais no Rio, garantindo que a atuação das forças de segurança respeite os direitos humanos e o uso proporcional da força. A relatoria estava a cargo do ministro Luís Roberto Barroso, que assumiu a presidência do STF em setembro, deixando o processo sem relator fixo. Com sua aposentadoria e até a nomeação de um novo ministro, Alexandre de Moraes assumiu interinamente a condução do caso. Sua decisão, portanto, recoloca o tema no centro da agenda judicial e política brasileira.